Voos cancelados, incerteza econômica, Carnaval que não ocorrerá, cruzeiros marítimos que não saíram do porto…grandes problemas para os seres humanos, causados por pequeníssimas mudanças na estrutura de microscópicos vírus. Vamos entender como isso ocorre!
Vírus estão em constante mutação – e este é um dos motivos pelos quais é tão difícil combatê-los. É normal e esperado que mutações ocorram, resultando em novas variantes dos vírus originais. A maioria dessas mutações não será perigosa para nós. Parte delas poderá apenas se espalhar com mais facilidade, sem causar graves doenças. Outras mutações podem ser perigosas, mas estarem no escopo de vacinas já existentes. Há, ainda, a possibilidade de mutações conseguirem ‘escapar’ dos efeitos protetores das vacinas atuais, exigindo que novas vacinas sejam criadas – todos os anos são lançadas novas versões da vacina da gripe, por exemplo, adaptadas a proteger melhor nossa saúde contra a variante do vírus mais preocupante no momento.
Há uma guerra constante travada entre cientistas e laboratórios contra a natureza instável dos vírus e de suas mutações.
Esta semana, a variante B.1.640.2 (que recebeu o nome de “IHU”), anunciada pelo Hospital Universitário de Marselha, na França, e derivada de outras variantes identificadas na República do Congo em setembro, está nas notícias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que está monitorando a IHU e que, no momento, ela não representa uma grave ameaça. Mas isso levanta algumas dúvidas…
Como surgem essas novas variantes de um vírus? E a partir de que momento a OMS decide se uma variante é perigosa (como foi o caso da Omicron) ou não?
COMO SURGEM AS NOVAS VARIANTES DE UM VÍRUS?
É normal e esperado que os vírus passem por mutações. Essas mutações são alterações aleatórias no DNA ou no RNA – a informação genética que eles carregam – e podem resultar ou não em mudanças na maneira como os vírus “funcionam”.
O vírus SARS-CoV-2, que é o causador da COVID-19, é um vírus de RNA. Ao penetrar nas células humanas, o vírus utiliza nossa maquinaria celular para se multiplicar. Nesse processo, que gera milhões de cópias do vírus original em pouco tempo, é normal que informações genéticas do vírus sejam copiadas para seus ‘descendentes’ com pequenos ‘erros’, isto é, variações aleatórias com relação às informações genéticas originais. Esses “erros” – as mutações – podem ser irrisórios (não alterando em nada o ‘funcionamento’ viral), deletérios (quando diminuem as chances de reprodução dos vírus) ou positivas aos vírus, isto é, quando ajudam os vírus a se reproduzir mais.
Para se ter uma ideia, a variante Omicron, capaz de se propagar muito mais rapidamente que o coronavírus ‘original’, possui 60 mutações em seu RNA. 32 delas estão na proteína que ‘liga’ o vírus às células humanas.
No caso das variantes mais conhecidas, como a Delta e a Omicron, mutações que surgiram aleatoriamente durante o processo de multiplicação viral permitiram ao SARS-CoV-2 se espalhar mais rápido do que o vírus ‘original’ (as mutações dessas variações modificaram a proteína que ‘gruda’ o vírus às células humanas, tornando-o mais difícil de ser combatido pelo sistema imune). Sendo assim, é fácil entender como essas variantes acabaram se tornando as dominantes, espalhando-se rapidamente por todo o planeta.
Como dito, mutações são normais e esperadas em qualquer vírus. A grande maioria dessas mutações não gera versões mais perigosas. Porém, como são milhões de mutações ocorrendo todos os dias em pessoas de todo o planeta, eventualmente alguma delas pode trazer ‘vantagens’ aos vírus. E são essas que precisam ser monitoradas.
COMO A OMS DETERMINA QUAIS SÃO AS “VARIANTES PREOCUPANTES”?
Órgãos de saúde como a OMS utilizam uma classificação em três categorias para variantes de vírus:
- Variante de interesse: o ‘interesse’, aqui, é o de monitorar as mutações destas variantes. Elas possuem características genéticas com potencial de aumentar a transmissão do vírus, torná-lo mais resistente ou causar formas mais graves da doença. A variante francesa IHU, divulgada esta semana na mídia, entra nesta categoria.
- Variante de preocupação: são as variantes que demonstram ser mais infecciosas, tanto em pessoas já vacinadas quanto em quem teve a doença anteriormente. Podem levar a formas mais graves da doença. A Omicron é um exemplo de variante preocupante.
- Variante de alta consequência: são variantes para as quais nenhuma vacina oferece proteção. No momento, não há nenhuma variante do coronavírus nesta categoria.
QUAIS SÃO AS “VARIANTES PREOCUPANTES” NO MOMENTO?
Omicron (nome oficial: B.1.1.529)
Identificada originalmente na África do Sul.
Acredita-se que essa variante pode se espalhar mais facilmente do que outras, inclusive a Delta. Ainda não há informações suficientes para se determinar com precisão a severidade da doença que provoca. Porém, indícios apontam que pessoas vacinadas contra a COVID, apesar de também espalharem a variante Omicron, têm chances muito menores de ficarem gravemente doentes.
Delta (nome oficial: B.1.617.2)
Identificada originalmente na Índia.
Lembra da variante Delta? Muito mencionada no segundo semestre de 2021, a Delta assustou muitos órgãos de saúde por ser altamente transmissível – estima-se que ela se espalhe até 2x mais rápido do que o vírus ‘original’ da COVID-19. Hoje, já se sabe que diversas vacinas são eficientes na proteção contra a Delta, como a da Pfizer, da Janssen, da Moderna e a CoronaVac. Doses de reforço são muito importantes nesse cenário.
NOVAS VARIANTES DO CORONAVÍRUS VÃO SURGIR NO FUTURO?
Com certeza. Novas variantes são identificadas toda semana. A grande maioria delas não resulta em ‘benefícios’ de sobrevivência aos vírus, e logo somem do radar dos cientistas. Outras até persistem por um tempo, mas logo desaparecem também. O importante é manter o monitoramento sobre as variantes preocupantes.
Cientistas do mundo inteiro trabalham na avaliação das variantes do coronavírus e de seus efeitos na saúde humana. No momento, as vacinas lançadas em 2020 e 2021 parecem ser eficientes contra a maior parte (senão todas) as variações – e por isso a importância de manter a carteirinha de vacinação em dia. Caso surja uma nova variante que escape das defesas das vacinas atuais, será possível criar novas vacinas específicas para elas em pouco tempo. De qualquer maneira, manter a vigilância e bons hábitos de prevenção ainda é extremamente importante neste momento tão incerto da história da pandemia.